O vírus que parou o mundo e parou o homem

Ruas e escolas vazias. Parques sem a alegria das crianças. Fronteiras fechadas. Em contraponto, os hospitais não têm leitos para a demanda, as farmácias e supermercados operam a todo vapor para atender as pessoas, ainda com todo o caos que se instalou. O coronavírus parou o mundo, parou os olhos do homem na dor do outro. Parou o homem, para que, acostumado com a vida alucinante e desenfreada, ele perceba o que realmente importa e saiba que hoje sua arma nessa luta por toda a humanidade é aquietar-se.

Esse é um tempo em que um dos maiores atos de amor é distanciar-se. Tempo em que ver um idoso caminhando pelas calçadas nos traz aperto ao coração, porque ele ainda não percebe o risco para si e para os outros. Tempo em que as varadas andam cheias de gente que tem sede de respirar ar puro ou sentir que depois de uma semana de trabalho em casa, finalmente, o sábado chegou. Tempo em que cada um se revela, através do egoísmo ou da empatia.

É um tempo difícil, de joelho no chão, de gente orando pelos doentes, orando para não adoecer, orando por quem não conhece, para que tudo isso passe logo, para que surja o remédio que cura e a vacina que previne. O que temos apreendido desse tempo? Enxergar o próximo é, antes de tudo, enxergar que o coletivo está acima dos interesses individuais. 

Se essa pandemia tem ceifado vidas, levado empreendimentos a uma crise sem precedentes, e entristecido os povos (lamento imenso pelos italianos), que ela seja, ao menos, um acontecimento histórico que incline o coração do ser humano ao que é bom e justo. Em nossas casas, com nossa família, sem a liberdade que tínhamos, e com alguns de nossos sonhos e planos frustrados, estamos entendendo, como nunca, que somos todos interligados, sem qualquer distinção. 

Nosso adversário chegou silencioso e se alastrou assustadoramente, provocando incerteza, tristeza, confinamento. Estamos aprendendo a lidar com um estranho e com o isolamento que ele causou. Não duvido da teoria que aponta a origem criminosa desse vírus. Lamento que tenha surgido para favorecer alguém. Por fim, crendo ou não nisso, sabemos que estamos diante de um desafio que exige de nós uma sintonia humanitária sem par. 

Paranoicos com a lavagem das mãos, com os espirros alheios, e a circulação das pessoas, seguimos em quarentena, às vezes esperançosos, às vezes desiludidos. Dia após dia as manchetes em todo o globo comprovam o poder devastador do inimigo. Já as redes sociais alimentam-nos de orientações preventivas, sugestões de atividades com as crianças, lives sobre os diversos assuntos, e mensagens altruístas. Assim, as semanas passam e a angústia vem e passa também. É uma gangorra mental. 

A condição de viver as paisagens da cidade pelas janelas nos mostra o quão frágeis somos e, ao mesmo tempo, a força que podemos ter quando unidos por um objetivo comum, pelo bem. É o momento de aproveitar para sair da nossa caixa cotidiana de pensamentos, ressignificar. 

Em meio a tudo isso, surgem, como um bálsamo, as notícias bonitas. Há poesia em entoar canções de fé em uníssono e em aplaudir aqueles que se doam pelos demais. Movidas pelo desejo de criar novos belos versos, pessoas em diferentes nações têm feito do seu lar um lugar de proteção e mais fé, crendo (eu creio) que em breve estarão por aí, mais solidárias, renovadas, com os braços ávidos para acolher suas saudades. 



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