Presente surpresa
Embrulho em papel azul e fita branca. O desfazer do laço revelou uma surpresa com sabor de sonho de infância: Um par de patins!
Quando criança, oito ou nove anos, queria patinar. Sentir o vento lançar meus cabelos compridos para trás e a maravilhosa sensação de estar deslizando com o impulso do meu próprio corpo - guardada naquela vontade talvez estivesse a minha primeira aspiração de liberdade. Mas minha mãe, com aqueles cuidados que só as mães conhecem e entendem, nunca quis que eu aprendesse a brincadeira com receio dos machucados.
Vez ou outra cobiçava os patins das vizinhas do prédio. Pedia emprestado. Tentava andar, porém a consciência de estar consumando um ato proibido impedia que eu criasse a coragem de me desprender da parede e explorar o espaço que se abria a minha frente, um espaço branquinho, branquinho, por causa do piso de mármore. Então, com certo lamento, entregava o meu objeto de desejo às suas donas e ficava admirando as estripulias cheias de equilíbrio que elas conseguiam fazer.
Mas esse par de patins surgido agora, de dentro do papel azul, tem um sabor especial. Surpresas assim nos fazem refletir no quanto a vida pode ser linda, basta que a gente se permita realizar, não importa em que tempo.
De repente me vi sobre oito rodinhas, meio que trocando as pernas, meio que com medo de cair, mas muito contente. Minha mãe continua não gostando muito da ideia de ver a sua menina na brincadeira perigosa, mas o meu noivo sabia que estava me dando felicidade embrulhada em papel azul e fita branca.
Ingrid Dragone
Quando criança, oito ou nove anos, queria patinar. Sentir o vento lançar meus cabelos compridos para trás e a maravilhosa sensação de estar deslizando com o impulso do meu próprio corpo - guardada naquela vontade talvez estivesse a minha primeira aspiração de liberdade. Mas minha mãe, com aqueles cuidados que só as mães conhecem e entendem, nunca quis que eu aprendesse a brincadeira com receio dos machucados.
Vez ou outra cobiçava os patins das vizinhas do prédio. Pedia emprestado. Tentava andar, porém a consciência de estar consumando um ato proibido impedia que eu criasse a coragem de me desprender da parede e explorar o espaço que se abria a minha frente, um espaço branquinho, branquinho, por causa do piso de mármore. Então, com certo lamento, entregava o meu objeto de desejo às suas donas e ficava admirando as estripulias cheias de equilíbrio que elas conseguiam fazer.
Mas esse par de patins surgido agora, de dentro do papel azul, tem um sabor especial. Surpresas assim nos fazem refletir no quanto a vida pode ser linda, basta que a gente se permita realizar, não importa em que tempo.
De repente me vi sobre oito rodinhas, meio que trocando as pernas, meio que com medo de cair, mas muito contente. Minha mãe continua não gostando muito da ideia de ver a sua menina na brincadeira perigosa, mas o meu noivo sabia que estava me dando felicidade embrulhada em papel azul e fita branca.
Ingrid Dragone
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