Passos
Entre as pedras do parque e as imperfeições do chão de cimento: vacilantes. Pela inexperiência e contínua adaptação aos sapatinhos: desiguais. Assim, os passos da criança iniciada na rotina de andar. Por vezes, pensando que já pode correr, acelera e pende o corpinho para frente, como se fosse cair a qualquer momento. Por vezes, pensando que sabe ser independente, ao pegar um brinquedo abandonado em outro cômodo da casa, vibra.
O espaço ao seu redor parece o mundo inteiro. Mas ela vai descobrindo que nem tudo é permitido, porque anda, mas alguém segura a sua mãozinha para que não caia, para que não pegue, para que não prove. O mundo inteiro...
Ela ainda vai entender que dar passos não se resume ao domínio, com equilíbrio e firmeza, da mecânica do pé ante pé. Vai entender que o andar ganha outros sentidos. Um dia terá mesmo que caminhar sem ajuda. E isso poderá doer muito. Vai encontrar pedras, buracos, bifurcações... Vai perder a direção. Vai retomar o trajeto, e se perder novamente. E se achar. E se perder. E se achar... Ela ainda vai entender que terá a vida inteira para aprender a andar.
Ingrid Dragone
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