A Carta de Manoel

Salvador - Bahia - Brasil


Oi amigo Joaquim!


Encontro-me no Brasil há uma semana e muito tenho para te contar sobre as novidades que
nesta terra presencio.


Sendo fevereiro este mês, estou a participar de um evento chamado carnaval; uma festa grandiosa na qual nada se comemora, fato que causou-me estranhamento, pois para realizá-la muito se gasta, e durante uma semana vive-se em função disto.


As ruas são preenchidas por milhões de pessoas, de modo que se olharmos do alto avistamos um enorme formigueiro. A multidão fica a esperar por palcos móveis, os trios elétricos, em cima dos quais bandas de Axé (um ritmo para balançarmos as ancas, coisa que os nativos bem e com facilidade fazem) tocam freneticamente durante horas, e todos põem-se a pular atrás como loucos. E muitas vezes, mesmo tomadas por um entusiasmo incompreensível , as pessoas passam de uma confraternização à uma violência bestial brigando aos socos; comportamento que considero pouco civilizado.


Há trios elétricos que tocam para o “povão” ou “folião-pipoca”, como dizem, e trios rodeados por cordas, para determinada quantidade de gente, dentro das quais usam-se fardas de identificação praticamente tribais, chamadas “abadás”.


As lendas dessas terras contam que o carnaval é uma festa muito democrática, pelo fato de todas as pessoas poderem participar, o que culmina na união de raças e classes. Mas creio que este pensamento é muito primitivo, acho estranha a necessidade de cordas para separar um povo tão confraternizado...


Além disso, nesta festa agarra-se e beija-se com facilidade qualquer pessoa sem ao menos saber o nome. A esse costume, que de acordo com meus valores é uma promiscuidade, dão o nome “ficar”.


Aqui se bebe com freqüência uma água doce extraída de uma fruta que os brasileiros chamam de coco. E mulheres negras, ornadas com muitas pulseiras e colares e vestidas com roupas brancas de renda ( acham que assim estão bem apresentáveis ), muito vendem um bolo chamado acarajé, o qual tem mais ou menos o tamanho e o formato de um hambúrguer. Dentro dele há uma pasta amarela, o “vatapá”. Este alimento muito forte, à base de um fruto dendê, possui um gosto peculiar, e apesar de ter sentido grande desconforto estomacal e intestinal na primeira vez em que o comi, agora muito me agrada e acho que viciei-me: é melhor que bacalhau!


As mulatas, das quais muito ouvimos falar aí em Portugal, são mulheres exuberantes, de bastante e duras carnes que gostam de dançar um ritmo difícil chamado samba (um hábito presente em todos os rituais), e andam praticamente nuas, usando vestimentas mínimas e apertadas, que incrivelmente não incomodam o andar e o sentar, e creio que usam-nas para seduzir os machos (nisso apresentam grande naturalidade), e também porque nesta terra existem muitos mares, e o clima tropical é predominante.


Há aqui a capoeira, uma espécie de luta misturada com dança, praticada em duplas e ao ritmo de um instrumento berimbau, que parece um arco – como o dos índios – com uma cuia colada em baixo, do qual se extrai um som peculiar, e no primeiro momento achei-o feio ou estranho.


As crenças são esquisitas... Aqui se cultua um tal de sincretismo. Já a hospitalidade é boa, os baianos são criaturas gentis, de bom coração, e muitas mulheres já se dispuseram a fazer com que eu me sinta mais acolhido neste paraíso.


Mas de tudo o que meus olhos presenciaram e posso relatar, a alegria que as pessoas exalam neste lugar é o fato que me causa maior maravilhamento. Há pequenos vestidos com trapos, descalços, maltratados, sorrindo e cantando “segure o tchan / amarre o tchan”, e com isso não sei bem o que pretendem dizer. Deve ser algo obsceno, pois dançam este refrão batendo as mãos nas vergonhas!




Bem, por aqui fico.

Lembranças à Maria!

Muito axé!

Manoel




Ingrid Dragone

Comentários

Anônimo disse…
Não gosta?
Volta para Portugal ué......
INGRID DRAGONE disse…
Acho que , no fundo, ele está gostando... rs.

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