“O rock brasileiro vai bem, obrigado”
Ingrid - Como é fazer rock num país que, cada vez mais, dá ibope para bandas que exploram a “sensualidade”, a exibição do corpo, e que não primam pelo cuidado com as letras?
Barone - O rock brasileiro nunca apelou muito nesse quesito... Vai bem, obrigado. Tem coisas novas e boas que pintaram recentemente, como Pitty, Cachorro Grande e Los Hermanos.
Ingrid - Qual o segredo para manter o sucesso por tanto tempo? O que mais os surpreende?
Barone - Segredo não tem. A surpresa é nos ver, depois de tanto tempo juntos, ainda com aquela chama inicial, vontade de tocar, fazer shows, fazer música.
Ingrid - O que o acidente sofrido por Herbert significou e significa para a banda?
Barone - Difícil resumir em poucas linhas, mas tentamos superar uma grande tragédia nos segurando onde podíamos: na música.
Ingrid -Como vocês lidam com a distância da família?
Barone - Já foi pior. Hoje, raramente ficamos mais de quatro dias fora de casa. Qualquer coisa, tem internet e telefone para segurar a saudade.
Ingrid - O que há de melhor e pior na fama?
Barone - Fama? Essa da tv e das revistas de fofoca? Não sabemos o que é isso. Mas é um prazer enorme quando alguém que gosta da banda e sabe quem é o Barone e quem é o Bi, vem pedir um autógrafo... É uma satisfação, sempre.
Ingrid - Como é ter trabalho para produzir um disco e depois vê-lo pirateado por aí?
Barone – É Chato. Mas a pirataria está diminuindo. O cenário da comercialização da música está mudando radicalmente, alguma coisa nova vai crescer em cima dos escombros da indústria do disco no Brasil...
Ingrid – Para você, como anda a produção musical no país hoje?
Barone - A produção vai bem, mas a oferta continua escassa, falta mais criatividade e coragem para abrir novas trilhas, para os novos valores atingirem o grande público. Mas será que o grande público quer o novo? Será que tá bom assim? Ninguém tem bola de cristal. Tem que arriscar, apostar e ir em frente.
Ingrid - Como você avalia a situação política do país? Ainda dá para acreditar nos candidatos?
Barone - Sua resposta está nas letras de Alagados (86), A Novidade (86), Perplexo (88) e porque não dizer, Luis Inácio e Os 300 Picaretas (95), dentre eles, alguns de seus compadres mais chegados... Quem diria?
Comentários
Numa época onde o banal é cultuado, os Paralamas, com seu conteúdo em arte, continua em nossas bocas e pensamentos, mesmo após décadas de história, não perdendo a capacidade de fazer música para a alma.
Década de 80. Para a economia, uma década perdida; Para a arte, uma safra desigual.
Enoque Lopes