Oitenta tiros e nenhuma justificativa

Os militares desrespeitaram as normas de abordagem do Exército, equivocaram-se, foram irresponsáveis, incompetentes, e um carro foi alvejado por 80 tiros de fuzil. O número de disparos chocou o Rio de Janeiro, o Brasil, o mundo. Evaldo dos Santos é, lamentavelmente, mais uma vítima dos crimes praticados por militares contra civis no Brasil. Evaldo não representa apenas um número nas estatísticas de violência. A triste história de Evaldo representa a dor de um povo que tem a sua paz roubada todos os dias. 

Qual a justificativa? Falta de preparo? Confundiram o veículo em questão com outro que era conduzido por bandidos? O pânico diante de suposta ameaça fez com que agissem assim? Não interessa o motivo, o resultado é a morte de um inocente, o testemunho de dor sem fim para uma família, para o filho do músico, menino que, com apenas sete anos, presenciou o assassinato do pai. E agora?

Por mais que haja punição, a tragédia vai fazer sangrar corações por toda a vida. E quantos corações sangram ao longo de tantos anos por causa da ignorância (e até do preconceito) de quem deveria proteger, mas mata, assim, "por engano", com 80 (OITENTA!) tiros.  

Diante da irreversibilidade da confiança, é preciso fazer preces pelo futuro. O brasileiro não anda mais pelas ruas sem lembrar de o quanto é vulnerável. Diante da irreversibilidade do tempo, é preciso fazer preces por quem sobreviveu ao pesadelo, a uma parte dele - ter ficado é experimentar a ausência e revisitar o irrevisitável.   

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