O silêncio de Portugal e o barulho em minha mente
Certo dia, aqui em solo lusitano, andando sozinha de casa até o centro da cidade, a certa altura do trajeto, passei a prestar atenção num ruído perto de mim. Era recém-chegada e, com memória de brasileiro, que já põe o pé pra fora com medo de assalto, comecei a ficar um pouco desconfiada. Era um som baixo, arrastado, de ritmo regular, próximo ao meu passo a passo. O caminho de sábado, às 14h, estava vazio. Nada se passava. Às vezes um carro ou outro cruzava as vias, e só.
De onde vinha então aquele barulho que me acompanhava e "estava a interromper" a minha paz? Parei. Olhei ao meu redor. Senti melhor o vento. Avistei uma senhora com uma sacola de supermercado. Ela estava bem distante. Voltei a andar. E voltei a escutar o barulhinho intrigante. Parei novamente. Andei um pouquinho. De novo e de novo, fazendo um teste de audição, de visão, de intuição. Foi aí que entendi de onde vinha o som.
Era somente a minha mochila, que atritava com o meu casaco enquanto eu caminhava. Achei graça. Aquele simples ruído havia se sobressaído na rua silenciosa e calma. Depois refleti sobre isto mais profundamente... O medo estava comigo, eu o carregava. A mochila era minha, eu me angustiei com um peso que resolvi levar nas costas. Eu criei uma situação de risco, de medo, fiz esta situação crescer, ganhar uma proporção assustadora em minha mente, tudo por causa da minha bagagem...
O que vivemos suportando ao longo do nosso caminho? Que situações desconfortáveis e até paralisantes estas "mochilas" vêm ocasionando?
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